28 de julho de 2011

Os Domingos Precisam de Feriados

Toda sexta-feira à noite começa o shabat para a tradição judaica. Shabat é o conceito que propõe descanso ao final do ciclo semanal de produção, inspirado no descanso divino, no sétimo dia da Criação.
Muito além de uma proposta trabalhista, entendemos a pausa como fundamental para a saúde de tudo o que é vivo. A noite é pausa, o inverno é pausa, mesmo a morte é
pausa. Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue.
Para um mundo no qual funcionar 24 horas por dia parece não ser suficiente, onde o meio ambiente e a terra imploram por uma folga, onde nós mesmos não suportamos mais a falta de tempo, descansar se torna uma necessidade do planeta.
Hoje, o tempo de ‘pausa’ é preenchido por diversão e alienação. Lazer não é feito de descanso, mas de ocupações ‘para não nos ocuparmos’. A própria palavra entretenimento indica o desejo de não parar. E a incapacidade de parar é uma forma de depressão.
O mundo está deprimido e a indústria do entretenimento cresce nessas condições. Nossas cidades se parecem cada vez mais com a Disneylândia. Longas filas para aproveitar experiências pouco interativas. Fim de dia com gosto de vazio. Um divertido que não é nem bom nem ruim. Dia pronto para ser esquecido, não fossem as fotos e a memória de uma expectativa frustrada que ninguém revela para não dar o gostinho ao próximo.
Entramos no milênio num mundo que é um grande shopping. A Internet e a televisão não dormem. Não há mais insônia solitária; solitário é quem dorme. As bolsas do Ocidente e do Oriente se revezam fazendo do ganhar e perder, das informações e dos rumores, atividade incessante. A CNN inventou um tempo linear que só pode parar no fim.
Mas as paradas estão por toda a caminhada e por todo o processo. Sem acostamento, a vida parece fluir mais rápida e eficiente, mas ao custo fóbico de uma paisagem que passa. O futuro é tão rápido que se confunde com o presente. As montanhas estão com olheiras, os rios precisam de um bom banho, as cidades de uma cochilada, o mar de umas férias, o domingo de um feriado…
Nossos namorados querem ‘ficar’, trocando o ‘ser’ pelo ‘estar’. Saímos da escravidão do século XIX para o leasing do século XXI – um dia seremos nossos?
Quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante. Nunca fizemos tanto e realizamos tão pouco. Nunca tantos fizeram tanto por tão poucos…
Parar não é interromper. Muitas vezes continuar é que é uma interrupção. O dia de não trabalhar não é o dia de se distrair – literalmente, ficar desatento. É um dia de atenção, de ser atencioso consigo e com sua vida. A pergunta que as pessoas se fazem no descanso é ‘o que vamos fazer hoje?’ – já marcada pela ansiedade. E sonhamos com uma longevidade de 120 anos, quando não sabemos o que fazer numa tarde de Domingo.
Quem ganha tempo, por definição, perde. Quem mata tempo, fere-se mortalmente. É este o grande ‘radical livre’ que envelhece nossa alegria – o sonho de fazer do tempo uma mercadoria.
Em tempos de novo milênio, vamos resgatar coisas que são milenares. A pausa é que traz a surpresa e não o que vem depois. A pausa é que dá sentido à caminhada. A prática espiritual deste milênio será viver as pausas. Não haverá maior sábio do que aquele que souber quando algo terminou e quando algo vai começar.
Afinal, por que o Criador descansou? Talvez porque, mais difícil do que iniciar um processo do nada, seja dá-lo como concluído.

Rabino Nilton Bonder

4 de julho de 2011

Eu não sou normal!

Eu confesso: não sou normal. Não sei o que se passa por sua cabeça ao ouvir essas palavras mas cheguei a conclusão de que estou bem fora da linha da normalidade. Para começar, não sou deste planeta. É, mesmo não tendo a pele verde nem antenas faço parte de um outro mundo, um Reino eterno, invisível, de justiça, paz e alegria. Não tenho nada a ver com tudo que se passa por aqui. O que é tão óbvio e indispensável para a maioria, para mim não passa de tolice. O que faz as pessoas importantes ou especiais não me interessa. O que parece ser o objetivo de vida da maioria vai de encontro a tudo que eu desejo. O que para muitos é prazer e felicidade para mim é tédio e morte.
Sou feliz, e essa talvez seja a maior contradição de todas. Mesmo tendo muitos motivos para me sentir uma vítima do acaso, ou da Providência, SOU FELIZ!
Uma felicidade que não cabe dentro de mim, que não varia com a inflação, as condições socioeconômicas, políticas ou meteorológicas. Simples assim.
Ainda não encontrei um amor que me faça flutuar, não ganhei na loteria (mesmo porque sem jogar fica ainda mais difícil), nem tudo na minha vida é um mar de rosas mas eu sou feliz.
Plenamente feliz apenas por descobrir que sou amada de uma forma absurda e incompreensível por alguém de quem eu era inimiga. Não me custou nada ser alvo desse amor e retribuir foi irresistível, mas a Ele custou sua própria vida, custou abrir mão de tudo que era e tinha só pra me ter por perto.
Isso não é normal e eu não tenho o direito de não me parecer com ele. Sou parte dele, Ele é tudo que eu tenho, é minha Pérola, meu Tesouro. Eu não tô nem aí se é careta, se é piegas, se parece fanatismo! Eu nunca mais serei a mesma novamente,e nem quero.
Vou na contramão do mundo: melhor é dar do que receber, melhor é esperar no Senhor, melhor é dar a outra face e também a túnica, andar mais uma milha, orar pelos que nos perseguem, abençoar os que nos maldizem, sofrer o dano, dizer sim ao Seu chamado.
Para mim, isso é a única coisa que faz sentido na vida. É estranho, é contrário ao bom senso, aparentemente não vai me trazer nenhum retorno, mas é inevitável, é o destino que eu escolhi, é o único Caminho. Viver essas contradições faz com que tudo faça sentido pra mim. O resto é vão, efêmero, como um sopro vai passar. Eu concordo com você, eu não sou normal.


Jesus, meu Rei, amor da minha vida, tu és o sentido.